Sobre

Cultura humanística

Rodrigo Martins Leite é filho único de pais que nasceram e foram criados na zona rural do estado de Minas Gerais. Desde muito cedo foi estimulado a ultrapassar todos os determinantes sociais que pudessem restringi-lo a ir além.

Sua primeira grande quebra de paradigma surgiu desse fato: ser originário de uma família católica economicamente humilde e, mesmo assim, ter estudado em uma escola judaica durante o ensino fundamental e médio, onde se alfabetizou em português e também hebraico. “Minha percepção do social vem muito daí; o interesse por arte, cultura, música, cinema“, enfatiza Rodrigo.

Aos 18 anos iniciou seus estudos em medicina na Universidade de São Paulo (USP) motivado pela busca de conhecimentos humanísticos em geral. Após sua graduação, aos 24 anos, deparou-se com o divisor de águas em sua trajetória profissional: não ter sido aprovado para residência em psiquiatria, foi trabalhar na periferia da Zona Sul de São Paulo, em uma Unidade Básica de Saúde como médico de família. “Isso possibilitou uma grande  experiência de ampliação de percepção social; a questão das emoções, como o ser humano existe no mundo, quais os conflitos que tem com o mundo, quais suas interfaces? A maioria das pessoas que mora fora da periferia não conhece. Em termos de medicina assistencial, posso dizer que foi a experiência mais satisfatória que tive ao longo da minha trajetória profissional”, completa Rodrigo. Frente a essa realidade, o médico  aprendeu a criar soluções num cenário de carência fazendo-se valer da empatia e vínculo sincero com o paciente. Após um ano de imersão na periferia, prestou a segunda prova para residência médica em psiquiatria, sendo qualificado na ocasião.

Outro marco em sua carreira foi ter concluído o mestrado em Políticas Públicas e Serviços de Saúde Mental, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal. “Essa experiência internacional trouxe uma rede de contatos em todo o mundo e uma visão global da saúde mental, saindo do individual e pensando em intervenções em serviços de saúde e populações vulneráveis”, completa o médico.

Sob um olhar mais atento, o mosaico de sua estética cultural adquirida ao longo da vida pode ser vista em seu papel enquanto médico, uma vez que desacredita na visão compartimentada da medicina: “ela não modifica cenários”. Ao assumir o cargo de Coordenador de Saúde Mental no município de São Paulo, em 2017, passou a enxergar o ‘fenômeno saúde’ sobre outro ângulo: a possibilidade de auxiliar as pessoas atendidas de modo mais amplo; ofertando ações preventivas, refletir sobre os fenômenos macro-sociais e alcançar sua missão social. Neste cenário, também compreendeu a importância da mudança de cultura organizacional como agente de transformação nas práticas das equipes e serviços de saúde. “Promover saúde é caminhar num local arborizado, ouvir boa música e se cercar de pessoas que tragam estímulo e sentido a nossa trajetória de vida.”, afirma Rodrigo.

Olhar para o futuro:

criticidade, cooperação, criatividade e comunicação

Com a psiquiatria social, sua principal meta é inserir a saúde mental no contexto da saúde geral. “O cartesianismo cindiu mente e corpo de uma forma irreversível nessa civilização ocidental que separa ‘loucura’ de ‘corpo’. Nas campanhas de saúde, cada mês tem sua própria cor, entretanto, por serem compartimentadas, as cores não formam um arco-íris. Desse modo,  gente perde espaço estratégico na sociedade, de fazer mudança comportamental, gerar reflexões e entendimento”, pondera. Segundo o médico, “no futuro teremos nossa vida prevista em algoritmos. O desafio será manter nossa integridade psíquica e um sentido de singularidade.”

Atualmente, como atividades de prevenção e promoção de saúde física e mental, Rodrigo estreita cada vez mais os laços com as práticas integrativas e a medicina oriental, entre elas, acupuntura e meditação: “O paradigma da medicina chinesa, por exemplo, complementa de uma forma bastante expressiva a prática da medicina ocidental.”

Prevenção e educação emocional na infância e adolescência

“O mundo está mudando muito rapidamente e o estresse que isso está gerando é enorme. A infância e adolescência é uma população chave para promovermos educação emocional, uma vez que essas esferas estão muito mais familiarizados com o acesso à informação. O que podemos transmitir enquanto legado para as nossas crianças e adolescentes é a educação emocional. Enxergo entre os meus novos desafios na clínica ampliada: o uso racional de tecnologias e mídias sociais e o desenvolvimento de ações preventivas em saúde mental na sociedade. Tratamos muito de doenças e transtornos, mas pouco pensamos em como prevenir.”, comenta Rodrigo.